"No dizer de um poeta, a modernidade entrou na História por um cortejo triunfal através do pórtico da Revolução francesa - mas no alto desse pórtico estava a guilhotina. O símbolo representa bem o novo período da História de que trata este volume, a "Era das Grandes Revoluções". É o momento em que a revolta da inteligência, preparada e planejada no "século das luzes", chega ao plano das realidades políticas e sociais, manifestando-se numa convulsão sem precedentes.A Revolução Francesa inaugurou as perseguições propriamente "modernas" contra a Igreja, revivendo cenas dos primeiros séculos e antecipando as terríveis repressões anticristãs do século XX; mas sobretudo deu origem ao laicismo, a tentativa de uma sociedade inteira de prescindir por completo de Deus, de organizar-se e viver como se o "Senhor da História" não existisse.Mesmo a aparente tolerância do período napoleônico não passou disso, de aparência, pois o imperador quis assenhorear-se da Igreja e servir-se dela como meio de governo. E a posterior divisão da Europa em dois campos, o dos "tradicionalistas"e o dos "liberais", com as revoluções européias de 1830 e de 1848 e as turbulências que acompanharam a unificação italiana e a alemã, apanhou os cristãos no redemoinho dos ódios políticos e ideológicos, ora perseguindo-os, ora dividindo-os entre si.Ao longo do século, o laicismo avançou para o ateísmo no plano das idéias. Houve todo um pulular de sistemas que pretendiam explicar a realidade excluindo explícita ou implicitamente a Deus:o idealismo hegeliano, o evolucionismo darwinista desfigurado e transformado numa "religião do progresso", o positivismo comteano... O socialismo, oscilando entre sentimentalismos mais ou menos bem intencionados e a férrea dialética marxista, preparou a tentativa mais desumana de todos os tempos para extirpar o cristianismo e impor aos homens os descentrados ideais surgidos na Revolução. E com Strauss e Renan ergueu-se um fogo de barragem sem precedentes para privar o Salvador da sua divindade e até da sua realidade histórica.Paradoxalmente, esse mesmo "século da agonia de Deus" correspondeu a um desabrochar espiritual extraordinário. Se é verdade que o cristianismo sofreu o mais duro assalto de toda a sua longa História, é fato que conheceu também um período de extraordinária vitalidade, de plenitude. A renovação que germinava como fruto das provações do período revolucionário culminou num desenvolvimento de tal ordem que bem poucas épocas lhe podem ser com