Roberto Marques apresenta uma reflexão original sobre a significação do que se convencionou chamar de Nordeste brasileiro ao pôr em cheque a constelação imaginária de ícones inflacionados que pelo uso e abuso caricatural condensam velhas, e ainda insistentes, imagens de um nordeste estruturado pelas relações pessoais, sertão, cangaço, paisagens rurais, religiosidades, festas populares. O nordeste proposto pelo livro não emerge vinculado a seus fantasmas identitários e suas formas representacionais mais comuns ao imaginário brasileiro. O nordeste em minúscula não se torna fóssil de si mesmo. O ritmo, o eletrônico, as letras, seu caráter formal engendram significações que ressoam novas formas de socialidade, novos arranjos sociais e por issoo eletrônico, ele mesmo, é convertido em potência desestabilizadora de imagens. Ao revisitar as mesmas referências, o que é típico, exorciza os fantasmas do moderno e do tradicional e os apresenta, de uma só vez, transformados em novas realidades. Oeletrônico, sua forma, precipita novos conteúdos que se expressam na reconfiguração das relações sociais de gênero, de classe social, de tradicional. Seu ritmo, seu volume, se impõem sobre os corpos, sobre o mundo, e a contrapelo engendram uma nova paisagem sonora que por ser literalmente sonora está no plano, agora, do significante, do som que chacoalha, que cinde as estabelecidas significações sobre o Nordeste. (Marco Antonio Gonçalves)