Em De carne e de ferro: viver e lutar em uma sociedade validista, a ?lósofa Charlotte Puiseux não somente traz uma crítica radical ao modelo sociocultural normativo, ancorado em dinâmicas altamente validistas, mas também busca pensar as tensões com as normas instituídas sobre os corpos e vidas sociais. Em suas re?exões, ela aporta alternativas teórico-?losó?cas e militantes para problematizar o validismo e sua imposição capacitista sobre corpos e formas de existências que transgridam uma noção narcísica, euro-falo-centrada, sobre o que é um corpo. Uma das alternativas propostas por Puiseux é o intercruzamento de teoria queer e teorias antivalidistas. Ela a?rma que é necessário "queerizar a de?ciência". A autora questiona a centralidade imposta por uma perspectiva dual e binária, instituída por noções orientadoras do pensamento e de práticas sociais presentes, tanto no discurso sobre corpos quanto nos espaços destinados a eles. Assim, a autora, por uma perspectiva queer, levanta uma problematização das tipologias conceituais e sociais do normal e do patológico, do corpo válido e inválido e do mito da capacidade e da incapacidade. Para ela, a teoria queer constrói seu estatuto teórico justamente a partir da crítica à naturalização e à biologização de normas socio-historicamente organizadas, reinstituídas, reinventadas e que se impõem como modelo organizacional da vida social.