"EU AINDA NÃO FALEI, EU QUERO FALAR!" Esta frase vai além do título deste livro; é uma afirmação valiosa que nos inspirou a investigar as falas das crianças e suas possíveis implicações acerca da linguagem escrita. É também um convite para que todos nós, pais, professores, pesquisadores e sociedade, prestemos mais atenção ao que as crianças dizem. Assim, isso significa escutar a realidade que elas vivem, é desprender-se do nosso olhar e compreender suas percepções, impressões, ideias e sentidos sobre o mundo que as cerca. Nesta perspectiva, este livro discute um tema atual e relevante para compreender o modo como as crianças se relacionam com a linguagem escrita através de experiências vividas ou presenciadas, no âmbito da educação infantil, e quais sentidos elas atribuem a essa ferramenta cultural. Ao analisar o cenário atual em que as práticas de escrita estão sendo implementadas, é necessário admitir que o modo como compreendemos, lidamos e nos relacionamos com esta ferramenta cultural tem gerado problemas cruciais, não somente no campo da educação infantil, mas também nas demais etapas de ensino da educação brasileira (Soares, 2007). Diante dessa realidade, o livro, fundamentado principalmente nas ideias de Vigotski (Teoria Histórico-Cultural), Leontiev, Luria e outros autores que investigaram e aprofundaram seus pensamentos, propõe uma concepção de linguagem escrita na Educação Infantil que não se restringe a práticas alienantes, mas desenvolventes das capacidades humanas nas crianças (Mello, 2009, 2010).