Uma anatomia da lesão: assim foi lido por alguns críticos o potente livro de estreia de Diletta D'Angelo, no qual a poeta tece habilmente o fio de uma narrativa do corpo ferido, alternando poemas centrados ao redor da experiência familiar do trauma (no caso, partindo da história da própria irmã), a poemas que aludem com dureza aos rituais de matança dos animais. A vivência pessoal, familiar, que desperta as lembranças da infância, também está atravessada pela sensação de asfixia e mal-estar, compondo o corpo lesionado, violentado desse livro. De onde o título, Defrost, como lento processo de elaboração do trauma e descongelamento daquilo que ficou sendo calado (no interior da família, da poeta ou da história) por anos. O estilo de D'Angelo também reflete esse movimento de aproximação e de afastamento da zona do trauma, alternando poesia em prosa quase narrativa a textos líricos fragmentados, servindo-se da primeira pessoa, da segunda pessoa ou, quando a matéria narrada se faz excessivamente perturbante, da terceira pessoa, revestida em alguns casos de uma linguagem objetiva, quase científica. A complexa estrutura interna do livro - que leva adiante várias narrativas paralelas e simultâneas, a partir de títulos em inglês que sealternam e repetem, e remetem a cada uma delas (Replaced; Freezing; Phineas Cage) - o tornam um livro complexo, denso, maduro, e singular na cena da poesia italiana contemporânea.