O Brasil, difícil de imaginar, país que todos imaginamos. A contradição, do ser ou não ser, a crise de identidade, está na origem de nossa formação nacional. Aliás, éramos alvo de imaginação, antes mesmo de existirmos: os portugueses, mas também outros povos europeus colonizadores, olhavam para o oceano fantasiando sobre a terra de fartura, a Cocanha revisitada, que encontrariam no Novo Mundo. Quando aportam no litoral baiano, as naus lusitanas carregam sua cultura - e, missão divina, fazem de tudo para sobrepujar a cosmologia nativa. Moderno de nascença: figurações críticas do Brasil reúne ensaios de treze autores, com o complexo intuito de retratar nossa contradição original. E vai além: com o público atual à deriva e claramente cooptadopelas facilidades da massificação, pensar sobre nossa imaginação e de onde esta provém se transforma em um exercício de liberdade.Dividido em quatro partes: 'Sociabilidade: as almas, os negócios, as ideias'; 'Relações internacionais, apreços nacionais'; 'Fulgurações do moderno' e 'Ordens e desordens'; o livro explora as várias facetas da relação entre a escrita e a constituição do ideário nacional.Da 'produção das almas' através da simbologia católica inserida na língua tupi feita sobre os indígenas pelos jesuítas no século XVI, até a cultura de massa através das telecomunicações que se estabelece na antessala do golpe de 1964, o livro traz quase como 'eixo central' dessa trajetória no tempo, entre o nacional e o estrangeiro, uma entrevista de Roberto Schwarz de 1976. Nela, o crítico desmonta tanto a ilusão do nacionalismo ufanista, quanto a de uma participação igualitária no mundo do capital. Muito antes do termo 'globalização', Schwarz já dizia que '[...] é claro que hoje em dia as independências econômicas, políticas e culturais não só não existem, como são praticamente inconcebíveis'.Neste percurso, Paulo Arantes investiga as bases materiais e o papel do romance em fazer imaginar-se como comunidade uma sociedade antagônica. Os autores examinam como ao longo da nossa história, vários escritores de estilos e tipos de texto diferentes (Mário Pedrosa, Machado de Assis, Mario de Andrade, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, o antropólogo Roger Bastide etc.) lidaram com suas heranças culturais, posições políticas e as influências estrangeiras no Brasil.Vinícius Dantas explora a militância e relação entre a produção modernista de Oswald de Andrade e sua militância comunista. Benjamin Abdala Jr. escreve sobre o